A antroposofia foi concebida e sistematizada pelo filósofo Rudolf Steiner (1861–1925), que teve uma intensa atividade como escritor e conferencista. Sua edição completa, abreviada por GA (do alemão Gesamtausgabe), abrange diversas áreas às quais a antroposofia foi aplicada, sempre com sua visão peculiar do ser humano e da natureza: pedagogia, biologia (incluindo a medicina), arte, sociologia, economia, agricultura, arquitetura e espiritualidade. São, ao todo, 354 volumes, alguns subdivididos em mais de vinte partes.

 A primeira médica antroposófica foi Ita Wegman (1876–1943), que antes de estudar medicina, havia se formado em ginástica corretiva, massagem sueca e hidroterapia. Após graduar-se, especializou-se em ginecologia.

Em 1905, Ita Wegman perguntou a Rudolf Steiner como seria possível renovar os mistérios da Antiguidade na medicina contemporânea. A resposta a essa pergunta, naturalmente, não poderia ser resumida em uma única frase. Steiner, então, a convidou para participar de suas aulas. A partir de 1911, ele proferiu algumas conferências sobre temas médicos como fisiologia, plantas medicinais e outros medicamentos naturais. Em 1917, Wegman tratou seu primeiro paciente oncológico com Viscum album administrado por via subcutânea. Atualmente, essa planta está entre as mais estudadas cientificamente e, ano após ano, muitos pacientes se beneficiam de seu uso terapêutico.

Junto com Rudolf Steiner, Ita Wegman fundou na Suíça o laboratório farmacêutico antroposófico Internationale Laboratorien AG, que, algum tempo depois, passou a se chamar Weleda.

O trabalho conjunto de Wegman e Steiner se intensificou progressivamente. Steiner afirmou que essa colaboração foi possível porque Ita Wegman possuía não apenas o conhecimento de uma médica qualificada, mas também dons terapêuticos intuitivos, que conduzem diretamente da observação do quadro clínico à compreensão espiritual e, consequentemente, à terapêutica genuína.

Além dessa colaboração, Wegman tornou-se médica pessoal de Steiner e cuidou dele em seus últimos dias de vida.

No Brasil, a pioneira em medicina antroposófica foi a médica Gudrun Burkhard (1929–2022).

Definição

Desde o início do século passado, a medicina antroposófica vem se estruturando como uma racionalidade médica (ou sistema médico complexo), com seis âmbitos bem definidos: morfologia, dinâmica vital, doutrina médica, sistema diagnóstico, sistema terapêutico e cosmologia. Atualmente, há médicos antroposóficos em mais de 60 países. Na Alemanha e na Suíça, existem hospitais que adotam essa abordagem.

Uma importante qualidade da medicina antroposófica é a abordagem centrada no paciente, com tempo para ouvir e acolher a história individual, além da história da enfermidade.

O Ministério da Saúde do Brasil assim definiu:

“A medicina antroposófica apresenta-se como uma abordagem médico-terapêutica complementar, de base vitalista, cujo modelo de atenção está organizado de maneira transdisciplinar, buscando a integralidade do cuidado em saúde. Entre os recursos terapêuticos da medicina antroposófica, destacam-se: a utilização de medicamentos naturais (fitoterápicos ou dinamizados), aplicações externas (banhos e compressas), massagens, movimentos rítmicos e terapia artística. […] Utilizam-se recursos que estimulam os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade.”¹

Sempre que possível, o médico antroposófico optará por medicamentos naturais. Porém, quando necessário, os medicamentos convencionais (chamados “alopáticos”) também serão prescritos para o paciente.

Há um estímulo para que o paciente se envolva ativamente em seu tratamento, evitando uma postura passiva. Mudanças no estilo de vida podem ser necessárias e apenas a própria pessoa pode realizá-las.

A formação do médico antroposófico exige que, primeiramente, ele tenha concluído a faculdade de medicina e seja formalmente registrado no Conselho de Medicina, ele pode ser um médico generalista ou especialista em alguma área. No Brasil, a formação em medicina antroposófica tem a duração de dois anos e é oferecida pela Associação Brasileira de Medicina Antroposófica.

O termo “antroposofia aplicada à saúde” é mais abrangente que “medicina antroposófica”, pois também se aplica a outras áreas da saúde onde também a antroposofia se aplica, como psicologia, odontologia, enfermagem, nutrição, fonoaudiologia, fisioterapia, entre outras.

Onde saber mais:

Associação Brasileira de Medicina Antroposófica (ABMA)
Associação Brasileira de Medicina Antroposófica Regional São Paulo (ABMA-SP)
School of Spiritual Science and seat of the General Anthroposophical Society

Referência:

1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Portaria Nº 1.600, de 17 de julho de 2006. Aprova a constituição do Observatório das Experiências de Medicina Antroposófica no Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, DF. 2006.

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